Minhas últimas leituras

Andei meio sumida porque estava estudando pra concurso (que foi suspenso, haha), então acumularam as leituras de fevereiro e março. Até que consegui manter um ritmo nos últimos meses, e aqui está o que andei lendo:

americanahAmericanah – Chimamanda Ngozi Adichie

Já fazia tempo que eu queria ler Americanah, e agora ele entrou naquele rol de livros pra sair recomendando para todo mundo. A história é centrada em Ifemelu, uma nigeriana que foi estudar nos Estados Unidos, e muitos anos depois decidiu voltar a seu país natal. No decorrer da história, vamos sabendo sobre o passado de Ifemelu na Nigéria, e tudo que aconteceu na sua vida nos EUA, onde passou a escrever um blog mostrando sua visão de estrangeira, mulher e negra. O livro acompanha ainda um pouco a história de Obinze, primeiro amor de Ifemelu e que também teve suas desventuras enquanto estrangeiro, mas na Inglaterra.
Adorei Americanah porque me fez refletir uma série de questões a respeito de racismo. Não posso dizer que sou uma pessoa totalmente livre de preconceitos (como acredito que ninguém seja), mas me vigio para melhorar dia a dia, inclusive com atitudes preconceituosas que às vezes nem percebemos.
Por mais que o convívio com amigas negras e a leitura de autoras negras me faça pensar nessas questões, sei que nunca vou saber realmente como é o preconceito que elas vivem na pele. Afinal, por exemplo, é fácil para mim, que tenho o cabelo grosso e liso, falar que minhas amigas negras deveriam “assumir os cachos”. Eu nunca precisei pensar, antes de uma entrevista de emprego, se eu não deveria alisar o cabelo para passar uma imagem mais “profissional”. Isso pode parecer pequeno, pode parecer só um detalhe, mas é uma de muitas questões que às vezes não paramos para refletir a respeito do racismo, e que estão no meio da história de Americanah.
Resumindo: Leiam e recomendem para outras pessoas lerem, por favor.

translacoesTranslações: Literatura em Trânsito

Em janeiro, participei de uma série de aulas abertas da Escola de Leitura, aqui em Curitiba, e numa delas ganhamos o livro Translações: Literatura em Trânsito. O projeto traz um livro com produção de vários artistas paranaenses (traduzido em mais três idiomas), e também um site com arquivos de áudio, vídeo e texto.
Confesso que mesmo sabendo de toda essa proposta, acabei lendo apenas o livro, sem interagir com o site. Li, inclusive, dentro do ônibus, durante alguns trajetos que precisei realizar.
Mas acho a proposta interessante, e talvez depois eu vá dar uma olhada com calma no site e usufruir essa mescla de diferentes mídias.

nao-sou-uma-dessasNão sou uma dessas – Lena Dunham

Eu tenho uma relação de amor e ódio com a Lena Dunham, ou melhor, com a obra dela. Eu gosto de Girls, principalmente da primeira temporada, mas tem horas que acho tudo muito chato, ou fico com raiva. Foi assim que me senti ao ler Não sou uma dessas.
Alguns dos textos são incríveis e maravilhosos, como o que ela fala sobre a naturalidade com que encara a própria nudez, e conta sobre como é filmar esse tipo de cena para o seriado. Outros textos, muitos deles sobre relacionamentos, me deixam chocada com algumas situações que enfrentou, e pela forma como reagiu.
Mas talvez eu devesse aprender a julgar um pouco menos os outros, já que minha experiência de vida é bem diferente, e aquilo que me parece absurdo pode ser normal em outro contexto.

orange-is-the-new-blackOrange is the new black – Piper Kerman

Enquanto aguardo ansiosamente pela nova temporada da série, aproveitei para ler o livro e, claro, detectar várias diferenças. Começando pela mais gritante: a Piper real parece ser uma pessoa legal, que enxergou muitas coisas sobre outras realidades ao passar um tempo no prisão, e é alguém com quem eu gostaria de conversar. A Piper da série eu odeio! Mas faz parte das adaptações, várias situações relatadas no livro foram levadas para a série de forma superlativa.
O que mais gostei da obra é que a autora faz várias reflexões sobre o funcionamento do sistema penal americano, que tem um monte de falhas, o que não deve ser muito diferente do brasileiro. Por exemplo, quando as detentas estão prestes a saírem da prisão, passam por uma série de palestras para “ajudá-las” a retornar ao lado de fora, que no fim não servem para nada em questões práticas. Quando se vai falar sobre moradia, explica-se sobre tipos de telhados e são dadas até algumas dicas de decoração, mas não há orientações sobre onde encontrar imóveis mais baratos para alugar, ou como conseguir auxílio para resolver as questões burocráticas.
Como se faz essa reinserção na sociedade? A Piper teve sorte de ter uma família, um noivo e um grupo de amigos pronto para ajudá-la, mas a realidade da maioria das ex-presidiárias não é essa.

sally-sombra-norteSally e a Sombra do Norte – Phillip Pullman

Faz muito tempo que li Sally e a Maldição do Rubi, o primeiro da série de aventuras da Sally Lockhart. Felizmente deu para ler o segundo volume sem problemas de me perder nas referências. O livro é estilo policial / suspense e se passa na Inglaterra no final do século XIX, então tem várias contextualizações históricas interessantes.
Como alguns dos personagens são fotógrafos, são feitas referências ao desenvolvimento da fotografia na época, o que me fascina. E Sally é uma feminista. Tem sua própria empresa de consultoria financeira, mas sofre com os machismos da época: pode fazer um curso de ensino superior, mas sem direto a diploma; recebe olhares estranhos ao viajar sozinha; vira alvo de fofocas por receber homens em seu escritório; dentre outras coisas.
Mas isso não a impede de investigar uma grande companhia, responsável por uma perda financeira de uma de suas clientes, que vai se desdobrando numa história cada vez mais complexa. Gosto do estilo de narrativa do Phillip Pullman, e esse foi um livro que deu pra ler bem rapidinho.