O Castelo dos Destinos Cruzados

Vou começar este texto com uma confissão: O Castelo dos Destinos Cruzados foi o primeiro livro de Italo Calvino que eu li em minha vida. Poderia considerar isso uma gafe, mas vou seguir a Tássia e deixar essa ideia de gafes literárias para lá, afinal a vida é muito curta para ler tudo o que a gente quer.

Eu tive uma época na minha adolescência em que fui meio fascinada por cartas de tarô e até tentei entender como funcionava a interpretação do futuro por meio delas. No fim não passou de uma curiosidade, mas as cartas exercem mesmo uma certa força na nossa imaginação.

Esse ponto da imaginação que é a grande sacada genial de O Castelo dos Destinos Cruzados. Um grupo de viajantes (de várias origens diferentes) se encontra reunido em um castelo, onde descobrem que não conseguem mais falar. Na necessidade de contarem suas histórias, fazem uso de cartas de tarô que, colocadas em determinada ordem, levam a uma interpretação.

O interessante é que as histórias dos vários personagens vão se cruzando nas diferentes cartas dispostas na mesa, sendo que a interpretação das cartas varia de acordo com as histórias em que vão sendo inseridas. Tudo é muito intrincado, numa construção narrativa surpreendente.

O livro conta ainda com outra história similar, que em vez de se passar no castelo, passa-se numa taverna. A versão do baralho de tarô é outra, bem como a natureza das histórias difere um bocado. E ali, o cruzamento das aventuras dos personagens não é tão perfeito – fato que o próprio Calvino comenta ao final do livro. Mas, ele ficou um tempão se empenhando em conseguir amarrar tudo tão bem quanto no castelo, até que acabou desistindo antes de enlouquecer.

A narrativa não deixa de ser genial por isso, de qualquer forma.

Uma resposta em “O Castelo dos Destinos Cruzados

  1. Uma das coisas mais geniais no Italo Calvino – autor que eu amo – é esse trabalho engenhoso com a estrutura da narrativa. É um escritor muito cuidadoso com a forma e o conteúdo, construídos mesmo para se complementarem, para fazerem sentido um em relação ao outro. Italo Calvino é um dos meus autores mais queridos. Se tu gostaste desse livro, então recomendo, dele, Se um viajante numa noite de inverno, Cidades Invisíveis e a trilogia formada por O visconde partido ao meio, O barão nas árvores e O cavaleiro inexistente.
    🙂

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